sexta-feira, 5 de abril de 2013

Simbolismo educacional: manifestações e greves sem fim




Por muito que a criança chore, faça birra ou pura e simplesmente contrarie a expressão das ideias dos progenitores e de quem o educa, mesmo que possa ter razão sobre o que deseja e pretende, somos tentados na maioria dos casos a ignorar e impor a nossa verdade aos pequenos.
Porto
Manifestação de 2 de Março no Porto
Somos pequenos. Seremos sempre pequenos, e com pretensões de virmos a ser grandes, por muitos anos que passem e os nossos corpos e idade indiquem outra realidade, continuamos a ser pequenos.  Pois continuamos a querer e a desejar o que não temos, mesmo que isso represente a incerteza do que realmente queremos. Mas em verdade, sem saber o que cremos de facto, somos capazes de saber identificar o que não queremos mais, o que já não faz sentido nas nossas vidas, com o tempo aceitamos e renegamos o que foi para deixar entrar o que virá.
Enquanto crianças, e ao longo do tempo do nosso desenvolvimento, estas rupturas ocorrem vezes sem conta, na maioria dos casos acompanhada por uma rebeldia incompreendida dos mais velhos. O problema coloca-se quando mesmo esses já não aguentam mais o que conhecem e desejam algo novo, único, mesmo que utópico.
Cometemos erros, todos, sem excepção. A falta de humildade não nos permite verbalizar essas faltas. Equacione-se os problemas existentes na nossa sociedade hoje, e iremos ver que os erros são na sua maioria de quem não os pode suportar devidamente, pois na convicção de estarem a tomar decisões em bases ilusórias e falsas são contemplados com o oposto do que lhes foi apresentado como a melhor opção.
Tal como as crianças que brincam ao faz de conta, enquanto método de aprendizagem da vida, os seus erros caricaturais dos adultos são desenvolvidos e partilhados em cada momento. Assim, quando a birra surge, e até um momento de exaustão, os pais irão tentar ignorar e evitar o confronto necessário para mudarem o seu comportamento e o da criança. Ignorando o que é pedido, fazendo de conta que não estão a ouvir assumem a desvalorização do pedido que lhes é feito. A birra cresce de tom, o cansaço faz-se notar na voz, nos gestos, nos olhares de ambas as partes. E à medida que vai crescendo e se extremam posições para se alcançar o que se quer, o diálogo passível de um acordo mútuo ser alcançado desaparece.
A dificuldade está em sermos capazes de falar abertamente sobre o que queremos, o que fazemos e sobre o que erramos. Somos ensinados a não errar, a não mostrar as nossas fraquezas, admitir o erro é abrir por completo o flanco ao inimigo. E quem é o inimigo?
É uma questão com múltiplas respostas, e dependendo da barricada assim elas serão dadas. E se em vez do inimigo falarmos no plural, será mais fácil identificarmos quem são? Construímo-nos na base do querer o que não temos, sem conseguirmos estabelecer o que é essencial para vivermos, é por isso que é útil aproveitarmo-nos da fragilidade e da vulnerabilidade dos pequenos, sem considerarmos que podem estar com alguma razão.
Observando as últimas manifestações e greves realizadas no nosso país, mais uma vez vejo os pais e os filhos a confrontarem-se sem se ouvirem mutuamente, sem se escutarem e sem darem importância ao que lhes está a ser dito. As opiniões, os números dos que participam, a desvalorização dos actos de ambos os lados perpetuam o mesmo caminho isolado que cada pai e filho percorrem na aprendizagem de si.
São importantes manifestações do que desejamos, do que necessitamos e do serviço que pretendemos que seja prestado a quem confiamos a orientação do nosso bem-estar. É sem dúvida necessário que nos responsabilizemos todos, e aqui começamos por deixar de lado as acusações e os sectarismos existentes e delineamos um plano, uma carta com o que consideramos ser essencial para vivermos em comunidade. Necessitamos uns dos outros, precisamos de nos ajudar mutuamente para encontrarmos as soluções viáveis para vivermos e deixarmos todos, ou a grande maioria, de sobreviver. Se não nos manifestarmos, se não fizermos greve, se aceitarmos todo o que nos é dado por quem não tem a consideração de nos tratar como igual, de que serve a liberdade e as aspirações individuais que apenas se estremam sem dar solução alguma à nossa vida.
O que se constrói hoje é replicado amanhã. As exigências irão decerto aumentar, a vontade de romper com o que se conhece também, pois compreendemos a inutilidade do que temos hoje. Precisamos mudar, sim, todos ou apenas alguns. Temos a capacidade para resolver os problemas todos que encontramos, sem dúvida, não nos podemos é fechar numa ideia apenas, ou num mito que seja justificativo de todos os atos de uns poucos. Tenho a certeza que as reivindicações vão continuar, tal como a criança que deseja o rebuçado ou brincar na rua mais tempo. Ainda não começamos a dialogar.
As manifestações, as greves serão a demonstração do cansaço do que conhecemos, do que temos. Na tentativa de nos salvaguardarmos a todos, as lutas só serão minhas se eu compreender o que elas representam na minha vida. As decisões tomadas apenas com um conhecimento parcial da realidade permite afunilarem os sujeitos ao ponto de, sem saberem, começar a construir algo novo. Por muito cansaço que se sinta, temos de continuar a lutar, mesmo que pareça não ter efeito neste momento, a continuidade essa é que produzirá os efeitos pretendidos. Um novo ciclo, com mais justiça, equidade e diálogo.
Os próximos tempos serão de birras de ambas as partes. A força está nas ruas, nas pessoas, que não podem pensar no hoje porque o amanhã é pior que o agora. Essa força é visível em cada rosto, em cada desejo de mudança. Chegaremos ao ponto de sermos capazes de cumprir o que está estipulado neste momento pois o que desaparece, o que morre, não ressuscita. O trabalho, a ocupação das ruas será apenas um ponto para nos educarmos e crescermos juntos. Congregar o que desejamos e que realmente é necessário termos para vivermos, só quando tivermos definido o que é necessário iremos dar o passo em frente para construir um novo mundo, de preferência com todos. Compreender é manifestar além da razão.
E só através da compreensão, pai e filho, serão capazes de ir no mesmo sentido sentindo que são complementares de cada um deles.
Ah, os filhos crescem e os pais deixam de os conseguir controlar…
Porto
Manifestação interior