Eternização do Ser
As preocupações da vida estão resolvidas. A menos que elas
não sejam reais e apenas ilusões feitas nos egos que acompanham o mundo
existente. Resolvidas, tratadas, excluídas no seio, no fosso fundo de mais para
sabermos sair dele. A realidade, esta bem dita nomeação a que atribuímos o ser
na leitura e interpretação dos mundos construídos em que depositamos as nossas
almas, os nossos corpos.
A ser verdade que está resolvida qualquer divergência,
qualquer quezília, eu saberia que estava no paraíso, realizado nas mãos de
tantos como eu. Será realmente um paraíso o que vejo? Na tortura interna, sinto
descontentamento por ser apenas um oásis num quadro por ti desenhado. A
referência da vida, da tua, minha, onde não estou e estarei a teu lado.
Desenhas e constróis a sociedade por um lápis taciturno em que as cores
despojadas de brilho, desfeitas em cinzas carbonizadas nas lareiras jamais
apaziguadas pela tua mão; são o corolário de ceder a uma vida em que sorrisos,
pagos, abraços, pagos, beijos, pagos, na troca de aceitação e inclusão, excluem
os que não cedem a pensar na cartilha por ti escrita.
É deste modo que a tua realidade não é a minha. Mas mesmo
que seja, nos meus olhos vês o que não encontras em ti. Serenidade, paz nas
escolhas praticadas ao longo de uma vida. Vida que jamais viverás por mim, sem
qualquer razão de ser, queres que eu viva a tua. Não me é permitido estar em ti
e experimentar o que a ti está reservado. Na liberdade de escolha, na liberdade
de saber escolher e percorrer o caminho, vejo-te perdido e sempre a querer mais
poder e controlo sobre o que não é teu, nunca foi e nunca será. Na calçada,
descalço, sentido desrespeito por quem não te quer, impões a vontade usurpada a
milhões que se hipotecaram com o intuito de não sofrer jamais o que criaste
para conseguires ser o que és hoje. Um homem, uma mulher de medo.