segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Poema dos 60




Sessenta passos, sessenta atos construídos.
Mãos estendidas, destemidas, conformam
A areia, o barro, a massa dos saldos
Em sonhos invertidos mutantes edificadores
Das missões, dos afazeres

Inconclusivos e jamais finalizados.
A luz subjuga a noite que surpreende
Na repetição do despertar. Saúde
Para o fim guardar serenamente
A obscuridade iluminar.

A tantos e tantos que chegam,
Partem e ficam. A esses iluminas,
Com a clareza tranquila da solução
Final encontrar Amor…
Paixão…

Aproveitar, despertar da dormência
Viver sem esperar o tempo decorrido.
Abraças as almas, as flores, os animais na insistência
Corrida da passado, presente e futuro destemido,
Em ti o sorriso!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Vistas


Castelo, ruinas
Caminhos 1



castelo, ruinas
Caminhos II

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A espera desespera P.III



Ambiciona mais, mas mais não sabe neste momento, replica o que muitos lhe dizem quando almeja por mais. Não sente. Os olhos não vibram, não espelham o seu desejo maior. No parque passa, ao shopping vai. Sem compras, nem as montras suscitam o freio no seu passo ou atenção. Olha, procura, vê as pessoas no corrupio, nas compras, no café instantâneo para partirem aos afazeres suspensos.
Ao ar livre a paz envolve-a, desprende-se da vida extinguida na materialidade das imagens produzidas. No percurso estimulado das pessoas, observadas, encontra um rosto familiar. Rebeca, em sentido contrário, sua amiga das mais chegadas que ornamentam a sua vida. Reluz o rosto, desabrocha a beleza do seu mundo, do seu ser. Alegria e prazer de viver. Rebeca surpreendida por a ver, abre no sorriso os braços acolhedores e extasiados. Na distância reconhecem-se.
Rebeca é psicóloga, esotérica; onde entra a paz reina e a desordem ganha ordem sem lei. Automaticamente todos sabem o que fazer e como estar. Em si, a confiança, a certeza do que fazer. Soraia, questiona-se porque não partilha com ela o que sente, porque não a procura mais vezes. Rebeca marca quem conhece apenas uma vez.
Por fim, frente a frente. Cumprimentam-se e num abraço sentido do tempo afastado da ausência vivida, um convite para um café ao qual Soraia diz não ter disponibilidade, das perguntas habituais com as respostas convencionais, sem abrir qualquer consciência do que vive no momento. Vinte minutos passam sem darem por isso, Rebeca insiste no café, Soraia, com o cronómetro a contar, diz que telefona para marcar noutro dia. No seu íntimo sente-se nua, como veio ao mundo; o filho está de saída, segunda certeza do dia.
A amiga não insiste e relembra-a do telefonema para se voltarem a encontrar. No adeus, até já. A experiência da vida permite-se a dizer o que Soraia sempre soube. “Se precisares de companhia, diz”. Os seus caminhos separam-se, seguem o rumo individual comunitário de todos os que têm que fazer algo, mesmo sem saberem o quê. No perpétuo movimento da distância Soraia atinge a plenitude incompleta. A caminhar para o filho, reflecte sobre o porquê de não ter aberto mão do que sente com a amiga, se confia nela o que a deteve a falar, de assumir o que sente, o seu conselho seria proveitoso. Por que razão não a olham nos olhos e liberta o seu ser.


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A espera desespera P.II




Frigorífico, armário, as compras em prateleiras e gavetas guardadas, estende-se à mala as roupas molhadas, na máquina são lavadas e outras peças já usadas. Detergente adicionado, botão ligado, o tambor roda na lavagem programada. São horas da refeição tomar. Liga a televisão para a acompanhar, comenta sozinha o que está a dar. Fala, argumenta; canta.
São as banalidades da vida de todos os dias, dos acontecimentos distantes, os que não fazem parte da sua vida. Entristece-se ao ouvir e ver, enche o peito de ar para evitar o choro, a mágoa de em austero mundo viver. Questiona os princípios regentes da acção humana para tanta desgraça produzirem sem a poder transformar. Não há sua imagem, não segundo a sua idealização, mas justa e humanizada. Civilização atroz, pensa, que por um punhado de bens essências se mata, destrói, impõem e submete seus iguais. Conhecimento ilusório diminui a liberdade de ser quem és, de viveres o que melhor a vida tem para te oferecer.
Escolas infinitas delimitam o pensar, o agir; inquestionável ordem instituída. Perpetua reprodução, selvática pois então, da lei animal num ser superior investido de capacidades que os demais, igualado e superando em bestialidade os outros animais. A lógica dos interesses, a lógica da desconfiança, a lógica da lei da força implanta a desgraça, a diferença, dividindo, separando…
Não compreendo porque Soraia pensa assim. De que se queixa ela. Não trabalha, cuida da casa e do filho por opção. O marido trabalha e os negócios proporcionam-lhe uma vida plena sem preocupações. Tem o que necessita. Tem mais do que precisa, é verdade ela partilha. Mas porque se martiriza com a desgraça alheia? Responsável pelo mal do mundo e da sua sociedade que desmorona a cada dia que passa. Exigências antagónicas não cumpridas, apenas expressas nas belas palavras do discurso da lei proclamados. Não verte lágrimas, num pranto desconsolado o coração partido pelos maus tratos a que estamos todos submetidos.
As empresas do marido e restantes negócios são trabalhados na justiça. Os salários pagos, as rendas exigidas, não são definidas por qualquer mercado. Definem-se pelo cuidar, o dar e o amar. Perguntam-se se têm lucro? Têm o lucro necessário para investir e partilhar os ganhos alcançados pelos que dão o seu tempo e empenho.
Arruma a loiça combalida pelos textos e imagens assistidos. Troca de roupa, calças de ganga, camisola de lã, botas e casaco de pele para o passeio da tarde dar. O filho surge na sua memória a sorrir, feliz por estar a brincar. Apaziguado o coração surge nova emoção insaciável por algo desconhecido. Sai de casa.
Na rua encontra o vizinho que de sorriso aberto lhe diz:
- Olá como estás?
-Bem obrigado.