segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A pobreza é necessária!



Educado na pobreza mitigada pela nobreza das palavras e das vãs intenções de um dia sem ser necessário sobreviver. Educado na pobreza para a manter até morrer.
Sem pedir licença entra por todas as portas e janelas, pelas rajadas de sol, vento e chuva que alimentam e saciam o meu ser. A ninguém foi requerido esse triste destino de pobre ficar, mas sem o pobre nada funciona. A correção da pobreza seria um artifício louco que permitiria que todos fossem iguais plenamente.
A pobreza é necessária para manter a ordem existente, sem ela não existiriam os escravos que a troco de tão pouco dão muito a poucos que não necessitam de nada. Os que necessitam nada têm, ou muito pouco têm para viver. E assim, a solução mantêm a especulação da necessidade desnecessária de se ser pobre.

A necessidade da sua existência, perante factos tecnológicos e de conhecimento existentes nos dias de hoje permitiria erradicar totalmente este fenómeno. No entanto, assistimos a um discurso e ações veementes de aprofundamento da pobreza, das desigualdades entre os indivíduos e os povos. Submissos, como devem ser, não questionamos o que existe e o sistema que fomenta esta aberração. O mérito é todo da necessidade.

Precisamos de ser pobres para, apenas alguns poderem viver, não exigirmos de mais de um sistema arcaico e desarticulado com as verdadeiras necessidades das pessoas. Precisamos de ser pobres para aceitarmos com a simplicidade de uma respiração a morte de milhares de irmãos que não conseguem aceder ao mínimo indispensável para uma vida digna.

Precisamos de ser pobres para simplesmente contarmos os tostões para nos alimentarmos, vestirmos, aceder à saúde, e a qualquer outro serviço pelo mínimo possível. Sim, afinal, nós estamos a mais e o melhor é irmos definhando pelo caminho intermitente do desrespeito pela dignidade da pessoa humana. Necessitamos de estar onde estamos para sucumbirmos ou nos elevarmos e exigir o que nos tem sido tirado desde sempre, o respeito de sermos de facto irmãos e iguais plenamente nas comunidades em que vivemos.

Precisamos de ser pobres para a escravidão se manter iluminada pela ilusão da liberdade. Se equacionarmos a liberdade que o pobre tem para exigir o pagamento devido pelo seu tempo, esforço e empenho num trabalho, iremos verificar que a liberdade não existe. Esta é apenas uma palavra sem conteúdo real, pois estamos a obrigar um irmão a reduzir a sua existência a uma lei selvática e primitiva onde o mais forte ganha tudo e o fraco não ganha nada. Pensei que nos diferenciássemos dos animais, mas por vezes acho que estes são mais humanos que os humanos.

A lei do mais forte implica que a imposição da sua vontade seja cada vez mais sufocante para a maioria das pessoas iguais a si. O tempo e a energia dada pelo pobre, nada representam para o forte que esmaga toda a tentativa de rebeldia e libertação para um novo estádio de sociedade.

Hoje podíamos ter a pobreza erradicada de vez nas sociedades globais a que pertencemos. No entanto, o interesse de uns poucos, permite que esta cresça a olhos vistos. E em breve a necessidade dos pobres será desnecessária, e os números impor-se-ão com a veemência de uma nova solução sem a participação dos que hoje controlam o mundo dos fortes. Até porque o planeta não aguenta e não sustenta as práticas de desenvolvimento que nos têm impelido perpetuamente para a frente. Assim, os pobres educados na pobreza, para a manterem, para a aceitarem e nada mais desejarem a não ser o pão de amanhã, mantêm-se escravos dos outros e das suas necessidades básicas, as quais só têm acolhimento nas intenções.

Precisamos de ser todos pobres, a todos os níveis. Só dessa forma conseguiremos resolver os problemas que temos hoje. Pois só nesse momento não restará nada que impeça a verdadeira igualdade entre semelhantes que nasceram iguais, com os mesmos sonhos, desejos e quereres. Quando todos formos pobres a solução final será respeitarmos de facto o que somos sem impormos a outro o que desejamos ou esperamos que ele seja para nós a mão, o pé a cabeça que não possuímos ou não queremos ser.

Precisamos da pobreza para a felicidade invadir todos os seres. A felicidade que todas as pessoas querem e não alcançam. Só nesse momento a alcançaremos. Pois estaremos despidos de todas as predisposições sobre as quais nos educaram até esse momento, e refutado o modelo perpetuamente ensinado, enterrado sem velório ou honras de estado ou militares, um sentimento novo florescerá em cada um de nós dotando-nos da capacidade para em paz resolvermos a pobreza e todos os males conhecidos até hoje.

Eu preciso do pobre para ser pobre. Ser pobre é, em última instância, a derradeira riqueza que podemos desejar alcançar. O muito ou pouco que conseguimos não se revela fundamental para a experiência da pobreza, tal como não se revela como o fenómeno que não deveria existir e existe. Preciso de ser pobre para o rico na sua pequenez e fraqueza continuar a achar que é ele que manda e controla o que sou, o que somos.

Construímos e desconstruímos a pobreza escondida nos números ofegantes sem voz, como um subproduto das sociedades que construímos. Sem questionar e sem resolver o que quer que seja para a sua verdadeira erradicação, mantemo-la e contribuímos para o seu incremento.

Precisamos da pobreza para continuarmos a ser o que somos!

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