- Estamos sempre perante espelhos. Por muito que tentemos não
atingimos um estado em que o reflexo deixe de fazer parte de todos os passos
que damos.
No espelho encontramos a vaidade e o vazio, o reflexo e a
alegria do que somos, desejamos ser. Da imagem refletida criamos o mundo à
nossa volta. É neste momento que, ou questionamos ou aceitamos o que temos na
nossa vida. Qual o problema de olharmos o espelho sem sermos críticos da imagem
que criamos?
- O reflexo emitido pelo espelho não é igual a nós?! Devia
ser?
- Que raio de pergunta é essa. Se é reflexo, é o que nós
somos, não te parece óbvio. É evidente que o que vês é o que tu és.
- Nesse caso, se me permite questionar…
- Não compreendes o que te estou a dizer. Caso contrário, tu
não duvidavas, nem ousarias questionar o quer que fosse.
- Mesmo assim sinto que tenho de o fazer, até para ver se
compreendi o que me disse. Será possível vermos a imagem sem vermos o conteúdo
dessa mesma imagem? Ou estamos perante a imagem mas sem saber qual a sua
essência?
- Que raio de pergunta está a colocar, duvido que seja capaz
de te ensinar seja o que for. Não percebo o caminho que percorres para chegares
à verdade.
- É esse o problema, não considero que seja uma verdade
apenas, mas o conjunto das verdades construtivas do que somos enquanto
essência.
- Estás cada vez mais esquisito e ignorante. O espelho onde
vês a imagem transmite a essência como é evidente. Não pode ser de outra forma.
Só dessa forma a imagem é real, se tal não acontecer estás a sonhar ou vives
num mundo de ilusões.
- Mas a imagem no espelho é uma ilusão, se o objeto que está refletido não se encontrar em frente do espelho, este deixa de existir no mundo
real. Ou pode acontecer o espelho recolocar-se e deixar de refletir qualquer
imagem. Deixa então de existir o objeto ou o ser reflectido pelo espelho? Na
essência do que é refletido, não deixa de existir, mantém-se a existência da
essência refletida, o reflexo é o teste que necessita para aceitar o que é e o
que vê. O problema é tentarmos ser apenas a imagem e não a essência do que
somos e impormos aos outros, que são o nosso espelho, o reflexo que vemos e
criamos para nós próprios.
- Estás completamente perdido. A imagem que é refletida, reflete a essência do que está a ser refletido. Não é possível que o espelho
permita corrigir a imagem da essência. Qualquer reflexo observado é apenas
reflexo nada mais que isso. Em caso algum, quer a imagem se mova, quer o
espelho mude de posição, a essência deixa de existir. E nem por isso a essência
se questiona sobre a sua real imagem, na prática o espelho reflete a imagem
total do que és, e impõem essa imagem na realidade em que te inseres.
- Estou a ver… isso significa que a essência não se
questiona sobre o que é, e apenas é. Ao ver a sua imagem no reflexo do espelho
compreende a sua totalidade e não se vê refletida no espelho. Não tem a perceção de ser vista e julgada pela imagem que transmite. É isso.
- Não consigo compreender essa última frase. Mas a verdade é:
o reflexo que se pode observar da imagem, é essência; esta só existe como uma
totalidade da própria imagem, que é captada por ti ou qualquer um de nós sem
com isso limitar a existência de si no mundo. Ela, ao contrário do que crês,
não altera nem se questiona, existe apenas, é o que é.
- Já alguma vez mudou o seu pensamento e o seu modo de ser?
- Outra pergunta sem pés nem cabeça. Onde estás a querer
chegar com isto?
- A lado nenhum em especial. Mas pode responder, por favor.
- Antes de ser mestre, e professor, aprendi muito e mudei
muito, é por esse motivo que hoje sou eu que ensino. E todas as pessoas com
quem me cruzei, de algum modo, contribuíram para a minha sabedoria.
- Do reflexo no espelho a essência recriou-se…
- O quê?!?!?!?
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