sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Diálogos




- Estamos sempre perante espelhos. Por muito que tentemos não atingimos um estado em que o reflexo deixe de fazer parte de todos os passos que damos.
No espelho encontramos a vaidade e o vazio, o reflexo e a alegria do que somos, desejamos ser. Da imagem refletida criamos o mundo à nossa volta. É neste momento que, ou questionamos ou aceitamos o que temos na nossa vida. Qual o problema de olharmos o espelho sem sermos críticos da imagem que criamos?

- O reflexo emitido pelo espelho não é igual a nós?! Devia ser?

- Que raio de pergunta é essa. Se é reflexo, é o que nós somos, não te parece óbvio. É evidente que o que vês é o que tu és.

- Nesse caso, se me permite questionar…

- Não compreendes o que te estou a dizer. Caso contrário, tu não duvidavas, nem ousarias questionar o quer que fosse.

- Mesmo assim sinto que tenho de o fazer, até para ver se compreendi o que me disse. Será possível vermos a imagem sem vermos o conteúdo dessa mesma imagem? Ou estamos perante a imagem mas sem saber qual a sua essência?

- Que raio de pergunta está a colocar, duvido que seja capaz de te ensinar seja o que for. Não percebo o caminho que percorres para chegares à verdade.

- É esse o problema, não considero que seja uma verdade apenas, mas o conjunto das verdades construtivas do que somos enquanto essência.

- Estás cada vez mais esquisito e ignorante. O espelho onde vês a imagem transmite a essência como é evidente. Não pode ser de outra forma. Só dessa forma a imagem é real, se tal não acontecer estás a sonhar ou vives num mundo de ilusões.

- Mas a imagem no espelho é uma ilusão, se o objeto que está refletido não se encontrar em frente do espelho, este deixa de existir no mundo real. Ou pode acontecer o espelho recolocar-se e deixar de refletir qualquer imagem. Deixa então de existir o objeto ou o ser reflectido pelo espelho? Na essência do que é refletido, não deixa de existir, mantém-se a existência da essência refletida, o reflexo é o teste que necessita para aceitar o que é e o que vê. O problema é tentarmos ser apenas a imagem e não a essência do que somos e impormos aos outros, que são o nosso espelho, o reflexo que vemos e criamos para nós próprios.

- Estás completamente perdido. A imagem que é refletida, reflete a essência do que está a ser refletido. Não é possível que o espelho permita corrigir a imagem da essência. Qualquer reflexo observado é apenas reflexo nada mais que isso. Em caso algum, quer a imagem se mova, quer o espelho mude de posição, a essência deixa de existir. E nem por isso a essência se questiona sobre a sua real imagem, na prática o espelho reflete a imagem total do que és, e impõem essa imagem na realidade em que te inseres.

- Estou a ver… isso significa que a essência não se questiona sobre o que é, e apenas é. Ao ver a sua imagem no reflexo do espelho compreende a sua totalidade e não se vê refletida no espelho. Não tem a perceção de ser vista e julgada pela imagem que transmite. É isso.

- Não consigo compreender essa última frase. Mas a verdade é: o reflexo que se pode observar da imagem, é essência; esta só existe como uma totalidade da própria imagem, que é captada por ti ou qualquer um de nós sem com isso limitar a existência de si no mundo. Ela, ao contrário do que crês, não altera nem se questiona, existe apenas, é o que é.

- Já alguma vez mudou o seu pensamento e o seu modo de ser?

- Outra pergunta sem pés nem cabeça. Onde estás a querer chegar com isto?

- A lado nenhum em especial. Mas pode responder, por favor.

- Antes de ser mestre, e professor, aprendi muito e mudei muito, é por esse motivo que hoje sou eu que ensino. E todas as pessoas com quem me cruzei, de algum modo, contribuíram para a minha sabedoria.

- Do reflexo no espelho a essência recriou-se…

- O quê?!?!?!?

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