quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Ardente sufoco, que me queima e dilacera P.I




Por vezes Marta, plena de vazio, prostra-se empinada no esplendor de si para mansamente preencher-se com parco calor de seu amado. Joshua assume-se imbricado no seu caminho, sem capacidade para ver o que Marta lhe pede sem oralizar. Robusto não transmite nada além de vibrantes exclamações resignadas do que há volta dele se passa. Marta espera.
Mas, num parêntese reto, devo acrescentar, a sua silhueta um tanto frenética transparece o corpo capaz de nos viciar nas mais estranhas formas de amor. Já Joshua, no seu modo atarracado sensual chama para si a atenção que não consegue dar de livre vontade a Marta. De músculos vincados pelo trabalho, mãos pequenas e de aperto forte e sentido na dor do cumprimento. Moreno de cabelo castanho claro e olhos prateados, nariz curvado e pequeno de boca larga, recheada por lábios espessos vermelhos. Rosto redondo ligeiramente alongado num quadrado. Já a sua companheira de altura superior faz-se acompanhar por pernas esbeltas e musculadas, de curvas ligeiras não demasiado marcadas. Peito balofo mostrando a sua tenacidade em cada movimento e salto de cerca para uma laranja apanhar. Mãos finas, de dedos esguios, passiveis de penetrar no mais ínfimo recanto, para um pequeno amanho. Rosto ovalado de olhos saltitantes amendoados, lábios suaves e bem marcados de tamanho adequado, sobrancelhas negras fortes no nariz e um fio no término do olho. Cabelo ondulado, com alguns caracóis de louro arruivado.
“É sempre a mesma coisa…” sai a bala da boca de Joshua, com o alvo bem definido. Marta espera por segunda vaga de misseis que estouram na sua maioria antes de atingir o alvo. No compasso de espera, na preparação de levantar a mesa, questiona “Ajudas-me…”. Sem se olharem, Marta acaricia a face a Joshua, num movimento lento procurando o contato e o carinho que necessita para se realizar.
Após um dia de receção à família e amigos, a casa destabilizada por tantos ocupantes momentâneos, levou à loucura, ou quase, os residentes da humilde habitação. Caminhando sem força e vontade, esmagada pela solidão dos dias silenciosos ao lado do homem que ama, agarra nas travessas para as depositar no lava-loiça. Joshua imbricado no seu engenho, sem dar atenção nem prestar auxílio réplica.
“Que remédio…”
Na lufa-lufa do lar, o casal arruma e reorganiza a casa para no fim se dedicarem ao descanso merecido. No entretanto sem palavras, sem contatos, sem qualquer sinal de cumplicidade a árdua tarefa realiza-se e as perguntas levantam-se nas cabeças de ambos. Pequenos olhares, sorrisos enfezados, toques suaves de um calor ardente glacial antecipando o serão consequente dos dias vividos e que desaguaram no oceano há muitas estações passadas. Enfraquecidos, desenvoltos em pensamentos e sentimentos contraditórios, esperam ambos pela franqueza esquecida e ignorada por tanto tempo. O poço de suas emoções ferve em pouca água, e a companhia de ambos é desejo de outros que inexplicavelmente lhes alimentam o corpo, a alma, o coração dilacerado por não terem possibilidade de se encontrar novamente. Mas será mesmo a distância a denunciar o fim da sua relação. Ambos se questionam sobre esta possibilidade.
Conscientes de suas intenções e sentimentos, ambos confusos com o que viveram até ontem, sabem que não é isso o desejado ou querido pelos dois. Porque pensam que estão sós? O que os leva a acreditarem que estão por sua conta? Como podem considerar não se amarem?

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